segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Duas cenas

Certa vez, no caminho de volta da pós, deparei-me com duas cenas no metrô que me chamaram a atenção, e foram mais ou menos assim:

Cena #1 - Estação Marechal Deodoro
Entra uma senhorinha negra, arcada, cansada... costura seu caminho por entre alguns jovens e conquista seu assento, com indicação preferencial. Fica de frente para mim e eu posso observar seus cabelos grisalhos com faixas brancas presos num coque. O olhar é cansado, ela encosta no banco. As mãos, assim como o rosto, são sulcadas pelo tempo. Ela fecha os olhos, como quem dorme em paz. O trem pára na Estação Anhangabaú, ela acorda e fica com o olhar baixo. Entra um homem, que se prostra à minha frente, segurando na barra acima do meu assento. Estico o pescoço para os lados, não posso mais vê-la porque entrou mais gente no vagão. Olho para o chão, e para minha surpresa, posso ver suas sapatilhas caramelo, amaciadas pelo tempo de uso, porque devem ser confortáveis para longas caminhadas. Até que a Estação Sé se aproxima, eu me levanto e me preparo para descer. Dou uma última olhada para ela e a deixo com Deus. Desço do metrô...

Cena #2 - Estação Sé
Desço as escadas rolantes sem pressa. Vejo que o metrô já chegou na plataforma e que dá tempo de entrar no vagão, então corro um pouquinho e o alcanço. Apoio-me numa barra lateral (ser baixinha é uma desgraça) e olho para o lado. Uma criança dorme no colo do avô, que a afaga distraidamente. Fico presa à cena até a Estação Luz, quando o avô acorda o neto, que não quer abrir os olhos. Então ele começa a fazer cócegas no menino, que com algum custo se levanta. Ele olha para o próprio reflexo na janela do vagão. O avô aponta para a imagem refletida do neto e diz: "olha só, um palhacinho!". As portas se abrem e avô e neto saem de mãos dadas. Uma mulher, que também observava a cena, comenta rindo: "se fosse a vó já tava carregando no colo!". Dou risada e ela desce na Estação Tiradentes. Continuo meu caminho sem nenhuma outra cena...

Duas cenas distintas. Nas duas, o amor presente.

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